segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Uma cantiga de D. Dinis

-Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
     Ai Deus, e u é?

Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
     Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pos comigo!
     Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado
aquel que mentiu do que mi ha jurado!
     Ai Deus, e u é?

-Vós me preguntades polo voss'amigo,
e eu ben vos digo que é san'e vivo.
     Ai Deus, e u é?

Vós me preguntades polo voss'amado,
e eu ben vos digo que é viv'e sano.
     Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é san'e vivo
e seerá vosc'ant'o prazo saído.
     Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv'e sano
e seerá vosc'ant'o prazo passado.
     Ai Deus, e u é?


Esta é uma das cantigas mais conhecidas de D. Dinis. Trata-se de uma cantiga de amigo, isto é, de um texto em que podemos imaginar a voz de uma mulher a falar do seu namorado.
Nas primeiras quatro estrofes, a mulher dirige-se às flores, perguntando-lhes se sabem notícias do amado que teria combinado um encontro. Presa da ansiedade, a mulher parece pensar que ele faltará a esse encontro. Por outro lado, o facto de ter como único confidente a Natureza quer dizer que, neste momento, a mulher está sozinha, o que nos pode levar a pensar que seria um encontro amoroso num local isolado.
Nas últimas quatro estrofes, as flores, surpreendentemente, respondem-lhe, garantindo que o amado irá cumprir o prometido. Sabendo-se que as flores não falam ou que, pelo menos, não conseguimos ouvi-las, provavelmente funcionam, aqui, mais como a manifestação do desejo que a própria senhora sentiria.
O que levaria um homem a escrever, assumindo uma voz feminina? Provavelmente, seria uma maneira de imaginar uma situação por ele desejada: um encontro a sós com uma mulher que o espera ansiosamente.

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